segunda-feira, 17 de maio de 2021

As pedras do caminho

 



Em um de seus poemas mais conhecidos, o poeta Carlos Drummond de Andrade fala-nos de uma pedra: “tinha uma pedra no meio do caminho”. Eis o poema na íntegra:

No Meio do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

O que seria esta pedra no meio do caminho do poeta? Não sabemos. Porém esta metáfora (comparação figurada) é também de uso popular. Às vezes a gente diz que tem uma pedra no nosso caminho, tem uma pedra no sapato, etc. É uma comparação que se refere a problemas que enfrentamos, a obstáculos que não nos deixam conquistar coisas que queremos, etc.  

Se pensarmos que a “pedra do meio do caminho” limita nossa possibilidade de sermos mais felizes, mais realizados como pessoas, podemos dizer que esta pedra atrapalha nossa vida, limita nossa possibilidade de termos ‘mais vida’. Neste sentido ela pode ser um sinal de morte.
 
Na semana passada lembramos os acontecimentos da paixão, crucificação e morte de Jesus. E no domingo comemoramos Sua Ressurreição.  

É interessante que nos relatos bíblicos desses acontecimentos também aparece com muita força a figura da pedra. Primeiramente no relato de sua morte: Ele foi colocado em uma gruta numa montanha, conforme era o costume de se enterrar as pessoas na época e foi colocada uma grande pedra na entrada dessa gruta para guardar o sepulcro. Leia o relato do Evangelho de Marcos 15:46:

“Este (refere-se a José de Arimatéia), baixando o corpo da cruz, envolveu-o em um lençol que comprara e o depositou em um túmulo que tinha sido aberto numa rocha; e rolou uma pedra para a entrada do túmulo.”

Podemos dizer figuradamente que esta pedra dividia a vida e a morte. Jesus morto. A pedra o separava da vida. Por outro lado, porém, para os seus discípulos e todos os que Nele acreditavam talvez aquela pedra representasse morte. A esperança acabara. Deixaram suas vidas normais para segui-lo. E agora, com sua morte, era a morte. Era o fim. Não havia mais esperança.

O relato bíblico, porém, não pára por ai. Ele diz que:

“Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem embalsamá-lo. E, muito cedo, no primeiro dia da semana, ao despontar do sol, foram ao túmulo. Diziam umas às outras: Quem nos removerá a pedra da entrada do túmulo? E, olhando, viram que a pedra já estava removida; pois era muito grande.” (Marcos 16.1-4)

A pedra estava removida. Tinha sido tirada do lugar. Já não separava a vida da morte. Jesus havia ressuscitado e já não estava mais no túmulo. A tentativa dos que o mataram, de silenciá-lo para sempre, havia sido frustrada. A ressurreição é a vitória da vida sobre a morte. Num certo sentido, podemos dizer que a pedra havia sido vencida. Que ela não tinha a última palavra.
 
Quais são as pedras da sua vida? Que pedras o/a impedem de viver mais plenamente? Todos nós temos grandes pedras que nos atrapalham o viver. Mas saiba: qualquer que for essa pedra, ela não tem a última palavra.  Jesus a venceu. E na vitória dele sobre a pedra do seu túmulo, temos a garantia da vitória sobre as pedras de nossa vida, que nos impedem um viver mais pleno. Temos que nos associar a Ele e com a força de Sua ressurreição teremos a garantia da vitória final, mesmo que no nosso viver essas pedras pareçam tão grandes.

Rev. Luiz Eduardo Prates da Silva
Coordenador da Pastoral Universitária e Escolar

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