sexta-feira, 11 de abril de 2025

PROFISSÃO PROFESSOR X SAÚDE MENTAL

 A Saúde Mental do Docente


Se você, professor ou professora, tivesse que descrever o seu cotidiano com uma única palavra, qual escolheria? Com toda certeza, as respostas seriam diversas, refletindo tanto aspectos positivos quanto negativos. Contudo, após quase duas décadas no ensino, passando por diferentes etapas da educação, acredito que muitas dessas palavras expressariam as dificuldades enfrentadas na docência, que afetam nossa saúde mental e o desafio de encontrar o equilíbrio no trabalho.O título desse texto nos convida a refletir sobre essa busca incessante por "equilíbrio" em meio a tantas demandas. Não bastassem a carga de trabalho intensa nas escolas, o tempo gasto com deslocamentos e o que ocorre em nossas casas, ainda temos que lidar com os desafios individuais de cada aluno, a infraestrutura deficiente das escolas e, mais recentemente, com a pandemia global. Além disso, vivemos em um mundo em constante transformação, onde as informações circulam rapidamente e geram uma pressão constante para nos atualizarmos – algo que parece ser uma necessidade diária.Nesse cenário, é cada vez mais difícil encontrar soluções que nos tragam prazer, equilíbrio ou descanso. O tempo para o aprimoramento profissional, lazer com a família e amigos, cuidados pessoais com o corpo e a mente, e até mesmo momentos de descanso são cada vez mais escassos. Por isso, nos sentimos exaustos, como se, por mais que nos entreguemos ao trabalho em tempo integral, ainda estivéssemos em dívida com algo.Infelizmente, pouco se fala sobre a saúde mental dos trabalhadores, especialmente para aqueles que enfrentam altos níveis de estresse, como é o caso da docência. Muitos ainda preferem esconder seus problemas, seja por medo de serem estigmatizados como desequilibrados, ou por temerem represálias dentro do próprio ambiente de trabalho. Chegou o momento de trazermos essa discussão à tona, refletindo sobre como podemos buscar maneiras de melhorar nossa saúde mental no dia a dia. Para alcançar esse equilíbrio, primeiro precisamos entender nossas condições atuais e definir o que desejamos alcançar.

A realidade do professor

Para começar, precisamos diagnosticar o que é ser professor nos dias de hoje. Quantas vezes conseguimos dedicar um tempo de qualidade à nossa saúde mental? Ao acordar, sentimos entusiasmo pelo que virá, ou já levantamos cansados, aguardando o próximo feriado? Estamos bem emocionalmente?Em um estudo realizado em um município do Rio Grande do Sul, os números são alarmantes. Em 2010, por exemplo, 42% dos afastamentos por licença-saúde eram de professores, e em 2014 esse número aumentou para 50%. Dados como esses indicam que a saúde mental dos professores continua em um cenário preocupante. Afinal, não são apenas números distantes; esses problemas são realidade para muitos de nós.Vejamos os principais desafios enfrentados pelos professores, que não são problemas isolados, mas sim parte do cotidiano de muitos.

Desafios comuns no ensino

Carga de trabalho excessiva:

Já houve momentos em que a carga de trabalho estava tão alta que eu me vi em situações inusitadas. Certa vez, estava preparando aulas em casa e, devido ao vento forte, as persianas batiam na janela. Em meio à concentração, me peguei fazendo um "sssshhhhh", como se estivesse pedindo silêncio a uma turma barulhenta. Isso ilustra bem a sobrecarga que experimentamos, quando nossa mente, mesmo fora do ambiente escolar, continua processando o trabalho. Muitas vezes, aceitamos novas responsabilidades para aumentar nossa renda, mas será que isso realmente compensa? E será que temos realmente escolha?

Pressão por resultados e falta de autonomia:

A pressão vem de todos os lados: direções escolares, alunos e suas famílias, governos e a sociedade em geral. Ao mesmo tempo, sentimos falta de autonomia em nossa atuação. Muitas vezes, temos que seguir planos predeterminados que não consideram a realidade de cada aluno e, em vez de focar em aspectos qualitativos, são baseados apenas em metas quantitativas.

Carga emocional elevada:

Além da pressão constante, convivemos com turmas grandes, muitas vezes com 35 ou 40 alunos, cada um com suas questões pessoais e emocionais. E o pior, não lidamos com uma única turma, mas com várias ao longo do dia. Isso cria um ambiente emocionalmente denso, no qual precisamos manter a calma para não prejudicar nem a nossa saúde mental, nem a dos alunos.

Excesso de funções:

A pandemia acelerou a integração entre trabalho e vida pessoal. Passamos a atuar também como designers, técnicos de informática e psicólogos, tudo em um só papel. E, agora, com o retorno ao ensino presencial e a constante introdução de novas tecnologias, nossa carga de trabalho parece multiplicar, tornando-se insustentável. Isso faz com que, mesmo trabalhando incessantemente, ainda nos sintamos culpados por não conseguir cumprir todas as exigências.

Ausência de suporte institucional:

Dado que a sobrecarga, a pressão e as múltiplas funções fazem parte da nossa profissão, é fundamental que as instituições nos ofereçam suporte adequado. No entanto, esse suporte é, na maioria das vezes, inexistente ou insuficiente. Como a maioria de nós não se sente acolhido quando precisa de apoio, a solução está em buscar alternativas tanto coletivas quanto individuais.

Estratégias para melhorar a saúde mental

Agora, é hora de pensar em soluções. O que podemos fazer para melhorar nossa saúde mental? Algumas ações exigem mudanças estruturais nas instituições, enquanto outras podem ser feitas no âmbito pessoal.

Busca por apoio psicológico:

A ajuda profissional é fundamental para ajudar a lidar com os desafios do cotidiano. Se o acesso a um psicólogo não for viável devido a questões financeiras ou de tempo, podemos buscar apoio em amigos e familiares, ou até mesmo em grupos de professores, que compartilham desafios semelhantes. Essas redes de apoio podem ser vitais em momentos de crise.

Melhoria das condições de trabalho:

As mudanças nas condições de trabalho exigem uma abordagem coletiva. Buscar melhorias no ambiente de trabalho, seja por meio de reorganizações internas ou negociações com a administração, é uma forma de promover um ambiente mais saudável.

Apoio institucional:

Instituições de ensino precisam criar programas de apoio psicológico e ações de prevenção para promover a saúde mental dos professores. Esses programas devem ser contínuos e preventivos, e não apenas reativos.

Formação contínua:

Embora as políticas públicas para garantir a formação contínua dos professores sejam importantes, o investimento individual também é necessário. Buscar aprimoramento profissional, mesmo que em pequenos passos, pode trazer grandes benefícios a longo prazo, tanto para nossa saúde mental quanto para nossa performance.

Desconectar-se do trabalho:

Criar uma separação clara entre o trabalho e a vida pessoal é fundamental. Precisamos reservar tempo para atividades que nos tragam prazer, seja no lazer, com amigos e familiares, ou até em momentos de descanso, sem a sensação de culpa.

Afastamento de fontes de estresse:

A sobrecarga de informações e a pressão para estar atualizado podem agravar a nossa saúde mental. Afastar-se de notícias negativas e de grupos nas redes sociais que alimentam esse estresse é uma forma eficaz de proteger a mente.

Conclusão

Apesar de todos os problemas apontados, existem alternativas que podem melhorar a nossa saúde mental, tanto a nível pessoal quanto coletivo. Como educadores, precisamos entender que nossa profissão não deve ser encarada como uma missão sobre-humana, mas como uma prática que exige cuidado com nossa própria saúde e bem-estar. Só assim poderemos continuar a exercer nossa função com qualidade, buscando equilíbrio e amparando nossos alunos da melhor forma possível.Eu, pessoalmente, após perceber a sobrecarga, busquei uma nova forma de equilibrar minha vida profissional e pessoal, com uma carga horária menor e investindo na minha formação. Hoje, estou em um cargo de dedicação exclusiva, o que tem me permitido focar mais no meu bem-estar. Com paciência, encontrei uma vida profissional mais saudável, e acredito que outros também podem fazer o mesmo, passo a passo.

FONTE: PORTAL CNN BRASIL E IA.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL

 

Valorização de professores como estratégia para a transformação da educação brasileira

 

A educação brasileira tem sido objeto de discussões intensas e cada vez mais polarizadas, principalmente quando o assunto em questão é a docência na Educação Básica. No último ano, a profissão docente foi tema bastante presente nas reuniões das Comissões de Educação tanto da Câmara dos Deputados quanto do Senado Federal, nos seus mais variados aspectos, com a latente demonstração da preocupação dos parlamentares com os desafios enfrentados pelos professores nas salas de aula do País.

Vale relembrar os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2022, que foram divulgados em dezembro. Em uma escala de 1 a 6, os estudantes brasileiros avaliados demonstraram baixo desempenho em matemática, estando apenas 17% acima do nível 2 e somente 1% nos patamares 5 e 6. Com relação às habilidades de leitura e domínio da língua nativa, o cenário também é estarrecedor: 50% dos alunos foram avaliados abaixo do nível 2 e apenas 2% alcançaram o nível 5.

O ranking internacional não traz resultados muito diferentes da análise nacional feita pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) em 2021. Quase 50% dos alunos brasileiros do Ensino Médio atingiram o nível 2 (em uma escala de 0 a 8) em matemática e 54,2% atingiram esse mesmo nível em português (em uma escala de 0 a 10).

Tais resultados evidenciam que os estudantes brasileiros não estão aprendendo habilidades e competências mínimas para exercerem a cidadania plena. E muito se questiona sobre os caminhos para melhorar a educação e alguns deles apontam para o investimento em políticas públicas que valorizam os professores.

Valorização do professor

Mas por que é preciso valorizar essa profissão? Constata-se por meio de pesquisas que professores são o fator intraescolar que mais impacta na aprendizagem dos alunos (OCDE, 2018). Além disso, são também os principais implementadores das políticas públicas formuladas para gerar impacto nas salas de aula.

“Valorizar a profissão” é uma expressão ampla e que pode ser melhor compreendida quando se pensa de maneira sistêmica e abrangente. A docência é uma profissão complexa e, por esse motivo, sua valorização perpassa por diferentes aspectos.

Em outubro de 2023, em homenagem ao Dia dos Professores, deputados federais e senadores da Bancada da Educação assinaram o “Termo de Compromisso pela Valorização e Desenvolvimento dos Professores e Professoras Brasileiros”. O documento elenca 10 ações com as quais os parlamentares podem se comprometer para que, objetivamente, se valorize a profissão.

Dentre os objetivos elencados no documento, destacam-se cinco, a começar pela atratividade da profissão. Isso significa despertar interesse em escolher e seguir a carreira. Atualmente no Brasil dados apontam para o desinteresse pela profissão. Apenas 5% dos estudantes do ensino médio manifestam o desejo de serem professores e 12% sinalizam algum interesse na profissão, de acordo com dados do Inep e Enade 2021. Além disso, um em cada três estudantes pensam, mas desistem de ser professores, segundo estudo do Instituto Península em 2021.

A segunda questão a ser considerada é a formação inicial. O Censo da Educação Superior 2022 revelou que quase 20% do total de matrículas em cursos de graduação no Brasil são na área de Educação, mesmo com baixa demonstração de interesse em seguir a profissão por alunos do ensino médio. Nesse cenário, constatou-se que 64% de todos os futuros professores estão matriculados na Educação à Distância (EaD) e 81% das matrículas em licenciaturas no ano de 2022 foram, também, nessa mesma modalidade, demonstrando crescente preferência pela formação on-line.

É no atual contexto que a formação inicial docente precisa ser aperfeiçoada para que garanta o desenvolvimento do conhecimento pedagógico do conteúdo, à luz da complexidade da profissão. A formação do professor, ainda que aconteça fisicamente distante das salas de aula, precisa garantir a presença nas escolas de educação básica por meio da realização de estágios de observação contextualizados e a partir da análise dos desafios enfrentados durante esses estágios como parte essencial do processo de formação.

Terceira questão a ser verificada: professores também são  valorizados quando expostos, de maneira intencional e organizada, à formação continuada. Trata-se de um processo educacional contínuo e sistemático, feito preferencialmente em ambientes coletivos, e projetado para aprimorar e atualizar os conhecimentos, habilidades e práticas pedagógicas dos educadores ao longo de suas trajetórias profissionais.

Quarto ponto que merece destaque diz respeito à carreira estruturada com critérios objetivos de progressão – que valorizem a prática e o desempenho – e salário adequado. São também aspectos relevantes a carga horária e a quantidade de escolas e de alunos aos quais os professores se dedicam: mais de 60% dos docentes atuam em três escolas ou mais; e 61% atuam com mais de 200 alunos, segundo dados do Inep (2021).

Pesquisas demonstram que trabalhar em múltiplas escolas resulta em mais ausências em razão de problemas de saúde, o que também impacta negativamente na aprendizagem dos estudantes, com efeitos maiores nos alunos mais pobres, pontua estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento de 2022 que traçou tendências e desafios no perfil do futuro docente.

Por fim, e não menos importante, melhores condições de trabalho são um dos cinco fatores fundamentais para a valorização do professor. Há que se enfatizar a necessidade de garantir o direito de destinar um terço da carga horária de trabalho para realizar formação continuada adequada, atividades de planejamento individual e coletivo, análise e estudo do processo de aprendizagem dos alunos, dentre outros tipos de atividades que são essenciais à profissão e que não podem ser realizadas nos momentos de interação com os estudantes.

Esses cinco pontos descritos e que constam no compromisso assumido pelos parlamentares buscam criar um ambiente propício ao desenvolvimento pleno dos educadores e, por extensão, a construção de uma educação de qualidade. Tal pacto não apenas reconhece a importância central dos professores na formação de cidadãos, mas também representa um apelo urgente para que a sociedade, gestores educacionais e legisladores atuem de maneira coordenada na implementação efetiva dessas medidas. Ao investir na valorização docente, o foco não fica apenas no presente. Fortalecemos as bases de um futuro mais promissor para as próximas gerações. A educação é a chave para o progresso e os professores são atores essenciais desse processo de transformação.

 

FONTE: EXAME.COM

terça-feira, 7 de junho de 2022

Bolsonaro sanciona Lei que confisca tempo de serviço de professores

 


O presidente Jair Bolsonaro sancionou a Lei Complementar 191/22, que ratifica o roubo de tempo de serviço de professores das redes públicas de todo o País, entre maio de 2020 a dezembro de 2021, período crítico da pandemia de Covid-19. O texto foi publicado no Diário Oficial da União de quarta-feira, 9 de março, e é de autoria do deputado Guilherme Derrite (PP-SP). Fato foi registrado na Agência Câmara de Notícias e destaque no site Mídia Popular.Inconstitucional

Na verdade, medida poupa de perda de direitos apenas o pessoal da Saúde e da segurança pública, civis e militares. Após o anúncio, o jurista Cláudio F Costa, consultado pelo Dever de Classe, diz que roubar tempo de serviço de professor é inconstitucional, e ajuda a entender melhor essa questão.

Qual o problema dessa lei sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro?

Ela ratifica confisco de tempo de serviço de professores e da ampla maioria dos servidores públicos de todo o País. Está errado.

Mas o pessoal da Saúde e da segurança pública foram poupados, pois o governo e o deputado autor da proposta alegam que esses funcionários atuaram na linha de frente do combate ao coronavírus...

Os professores e muitos outros servidores também trabalharam bastante no período crítico de combate à pandemia. No caso do magistério, o trabalho e as despesas para cumprir aulas remotas fez foi aumentar. Por que essa discriminação e exclusão? A meu ver, é algo totalmente inconstitucional e deve ser questionado na justiça.

Na prática, quais os prejuízos que essa lei traz para os docentes e outros que estão tendo o tempo de serviço confiscado?

Esse período entre maio de 2020 a dezembro de 2021 não contará para efeito de obtenção de eventuais direitos que constem em planos de carreira, como adicionais, licença-prêmio, anuênios, quinquêniios e outros. Na verdade, é como se durante esse período os professores e outros tivessem morrido em relação a esses benefícios. Além de ilegal, imoral, em minha opinião.

LEI NA ÍNTEGRA

FONTE: https://www.portalr10.com/