Valorização de professores como estratégia para a
transformação da educação brasileira
A educação brasileira tem sido objeto de discussões
intensas e cada vez mais polarizadas, principalmente quando o assunto em
questão é a docência na Educação Básica. No último ano, a profissão docente foi
tema bastante presente nas reuniões das Comissões de Educação tanto da Câmara
dos Deputados quanto do Senado Federal, nos seus mais variados aspectos, com a
latente demonstração da preocupação dos parlamentares com os desafios
enfrentados pelos professores nas salas de aula do País.
Vale
relembrar os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes
(Pisa) 2022, que foram divulgados em dezembro.
Em uma escala de 1 a 6, os estudantes brasileiros avaliados demonstraram baixo
desempenho em matemática, estando apenas 17% acima do nível 2 e somente 1% nos
patamares 5 e 6. Com relação às habilidades de leitura e domínio da língua
nativa, o cenário também é estarrecedor: 50% dos alunos foram avaliados
abaixo do nível 2 e apenas 2% alcançaram o nível 5.
O
ranking internacional não traz resultados muito diferentes da análise nacional
feita pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) em 2021. Quase 50%
dos alunos brasileiros do Ensino Médio atingiram o nível 2 (em uma escala de 0
a 8) em matemática e 54,2% atingiram esse mesmo nível em português (em uma
escala de 0 a 10).
Tais
resultados evidenciam que os estudantes brasileiros não estão aprendendo
habilidades e competências mínimas para exercerem a cidadania plena. E muito se
questiona sobre os caminhos para melhorar a educação e alguns deles apontam
para o investimento em políticas públicas que valorizam os professores.
Valorização do professor
Mas
por que é preciso valorizar essa profissão? Constata-se por meio de pesquisas
que professores são o fator intraescolar que mais impacta na aprendizagem dos
alunos (OCDE, 2018). Além
disso, são também os principais implementadores das políticas públicas
formuladas para gerar impacto nas salas de aula.
“Valorizar a profissão” é uma
expressão ampla e que pode ser melhor compreendida quando se pensa de maneira
sistêmica e abrangente. A docência é uma profissão complexa e, por esse motivo,
sua valorização perpassa por diferentes aspectos.
Em
outubro de 2023, em homenagem ao Dia dos Professores, deputados federais e
senadores da Bancada da Educação assinaram o “Termo de Compromisso pela
Valorização e Desenvolvimento dos Professores e Professoras Brasileiros”. O
documento elenca 10 ações com as quais os parlamentares podem se comprometer
para que, objetivamente, se valorize a profissão.
Dentre
os objetivos elencados no documento, destacam-se cinco, a começar pela
atratividade da profissão. Isso significa despertar interesse em escolher e
seguir a carreira. Atualmente no Brasil dados apontam para o desinteresse pela
profissão. Apenas 5% dos estudantes do ensino médio manifestam o desejo de
serem professores e 12% sinalizam algum interesse na profissão, de acordo com
dados do Inep e Enade 2021. Além disso, um em cada três estudantes pensam,
mas desistem de ser professores, segundo estudo do Instituto Península em 2021.
A
segunda questão a ser considerada é a formação inicial. O Censo da Educação
Superior 2022 revelou que quase 20% do total de matrículas em cursos de graduação
no Brasil são na área de Educação, mesmo com baixa demonstração de interesse em
seguir a profissão por alunos do ensino médio. Nesse cenário, constatou-se que
64% de todos os futuros professores estão matriculados na Educação à Distância
(EaD) e 81% das matrículas em licenciaturas no ano de 2022 foram, também, nessa
mesma modalidade, demonstrando crescente preferência pela formação on-line.
É
no atual contexto que a formação inicial docente precisa ser aperfeiçoada para
que garanta o desenvolvimento do conhecimento pedagógico do conteúdo, à luz da
complexidade da profissão. A formação do professor, ainda que aconteça
fisicamente distante das salas de aula, precisa garantir a presença nas escolas
de educação básica por meio da realização de estágios de observação
contextualizados e a partir da análise dos desafios enfrentados durante esses
estágios como parte essencial do processo de formação.
Terceira
questão a ser verificada: professores também são valorizados quando
expostos, de maneira intencional e organizada, à formação continuada. Trata-se
de um processo educacional contínuo e sistemático, feito preferencialmente em
ambientes coletivos, e projetado para aprimorar e atualizar os conhecimentos,
habilidades e práticas pedagógicas dos educadores ao longo de suas trajetórias
profissionais.
Quarto
ponto que merece destaque diz respeito à carreira estruturada com critérios
objetivos de progressão – que valorizem a prática e o desempenho – e salário
adequado. São também aspectos relevantes a carga horária e a quantidade de
escolas e de alunos aos quais os professores se dedicam: mais de 60% dos
docentes atuam em três escolas ou mais; e 61% atuam com mais de 200 alunos,
segundo dados do Inep (2021).
Pesquisas
demonstram que trabalhar em múltiplas escolas resulta em mais ausências em
razão de problemas de saúde, o que também impacta negativamente na aprendizagem
dos estudantes, com efeitos maiores nos alunos mais pobres, pontua estudo do
Banco Interamericano de Desenvolvimento de 2022 que traçou tendências e desafios
no perfil do futuro docente.
Por
fim, e não menos importante, melhores condições de trabalho são um dos cinco
fatores fundamentais para a valorização do professor. Há que se enfatizar a
necessidade de garantir o direito de destinar um terço da carga horária de
trabalho para realizar formação continuada adequada, atividades de planejamento
individual e coletivo, análise e estudo do processo de aprendizagem dos alunos,
dentre outros tipos de atividades que são essenciais à profissão e que não
podem ser realizadas nos momentos de interação com os estudantes.
Esses
cinco pontos descritos e que constam no compromisso assumido pelos
parlamentares buscam criar um ambiente propício ao desenvolvimento pleno dos
educadores e, por extensão, a construção de uma educação de qualidade. Tal
pacto não apenas reconhece a importância central dos professores na formação de
cidadãos, mas também representa um apelo urgente para que a sociedade, gestores
educacionais e legisladores atuem de maneira coordenada na implementação
efetiva dessas medidas. Ao investir na valorização docente, o foco não fica
apenas no presente. Fortalecemos as bases de um futuro mais promissor para as
próximas gerações. A educação é a chave para o progresso e os professores são
atores essenciais desse processo de transformação.
FONTE: EXAME.COM